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sábado, 9 de fevereiro de 2019

Um duro golpe na indecisão de Getúlio Vargas


Vargas na reunião com ministros que decidiu pela entrada na guerraDécadas depois de o presidente Getúlio Vargas enviar a Força Expedicionária Brasileira ao front europeu, as razões que levaram o País a entrar na SegundaGuerra Mundial ainda são alvo de grandes discussões. Durante muitos anos – e principalmente no período do conflito –, o Brasil posicionou-se como uma vítima de uma série de atentados inesperados, covardes e traiçoeiros, impelida pelas circunstâncias a lutar por sua honra e a buscar a vingança nos campos de batalha.
Uma análise mais distanciada da emoção que tomou conta da nação naquele agosto de 1942, quando mais de 600 brasileiros morreram nos afundamentos de cinco navios na costa nordestina, mostra que, sim, o Brasil foi vítima de atentados covardes e traiçoeiros. Entretanto, levando-se em conta a postura do governo brasileiro, tais ataques nunca poderiam ser classificados – como foram – de inesperados.
Desde os primeiros anos do conflito mundial, deflagrado em 1939, o Brasil mantinha-se oficialmente como um país neutro. Mais próximo ideologicamente dos regimes totalitários alemão e italiano do que da democracia norte-americana, o ditador brasileiro era visto na política internacional como um possível parceiro do Eixo caso resolvesse tomar partido no conflito. Apelidada de “Polaca”, a Constituição outorgada por Vargas em 30 de novembro de 1937, inclusive, inspirava-se nas leis fascistas do polonês Józef Pilsudski, morto em 1935, e incluía artigos claramente copiados do regime italiano de Benito Mussolini, o que aproximava ainda mais o Brasil das ditaduras europeias, ao menos do ponto de vista ideológico. Outro fato que demonstrou a proximidade com o Eixo foi a deportação, a pedido de Berlim, da judia Olga Benário, militante comunista de origem alemã, companheira de Luís Carlos Prestes.
Por outro lado, a presença de Oswaldo Aranha, ex-embaixador do País em Washington e, desde 1938, ministro do Exterior, garantia aos Estados Unidos um sólido alicerce dentro do governo brasileiro. Além disso, durante os primeiros anos do conflito, as vantagens comerciais oferecidas pelo livre comércio, o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional e o aparelhamento militar brasileiro com recursos americanos – apenas para citar algumas razões – aproximaram decisivamente o Brasil dos Estados Unidos.
Até Walt Disney fez sua parte para promover a aliança entre os dois países. Hospedado no Copacabana Palace Hotel, no Rio, no começo dos anos 1940, o produtor e cineasta americano criou o personagem Zé Carioca, um retrato estereotipado do brasileiro, visto pelos irmãos do norte como um sujeito preguiçoso, mas, ao mesmo tempo, divertido. Em 1941, a criação do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira, também com participação decisiva americana, selou de vez um possível pacto em caso de entrada dos dois países na guerra.
No fim daquele mesmo ano, em dezembro, o ataque japonês a Pearl Harbor precipitou o ingresso dos Estados Unidos no conflito. Um mês depois, em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Eixo. O gesto, que enfureceu Adolf Hitler, foi o marco para a escalada de agressões e intimidações que se seguiram, tornando irreversível a opção de Getúlio Vargas pelo lado norte-americano.
No início de 1942, os alemães realizavam uma intensa campanha submarina no Atlântico, a chamada operação Rufar dos Tambores (Paukenschlag), visando a impedir a chegada de suprimentos à indústria bélica americana. Após o rompimento de relações diplomáticas entre os dois países, os navios brasileiros – muitos deles carregados de borracha, usada em esteiras de tanques e em correias de motores – passaram a ser vistos como alvos extremamente aprazíveis para os submarinos nazistas.
Em 15 de fevereiro, o cargueiro Buarque foi o primeiro a ser atacado, próximo à costa americana. Depois disso, seguiu-se uma série de torpedeamentos a embarcações nacionais. Até julho, 15 navios brasileiros haviam sido atingidos, todos fora da costa do País, totalizando 136 mortos.
Àquela altura, os diplomatas alemães já não se esforçavam para justificar supostos enganos nos ataques a embarcações brasileiras. Nas entrelinhas, a mensagem era clara: não havia engano algum – e o Brasil estava pagando o preço por sua escolha.
Para que Getúlio se desse por conta de que não havia como voltar atrás em sua opção pela trincheira aliada, faltava apenas um acinte à soberania nacional, um ataque deliberado a uma cidade brasileira ou a embarcações nacionais na costa do País. Entre 15 e 17 de agosto, Hitler deu a Vargas o empurrão que faltava para que este descesse do muro de sua hesitação.
Após o torpedeamento de cinco navios na costa nordestina, em um intervalo de menos de 72 horas, o povo tomou as ruas e exigiu a entrada do Brasil na guerra. Por todo o território nacional, estudantes, sindicalistas, políticos e empresários manifestaram sua revolta contra os atentados.
Em várias cidades, empreendimentos comerciais pertencentes a imigrantes do Eixo foram depredados. Placas com nomes italianos foram arrancadas e bandeiras nazistas, queimadas em praça pública. No Rio de Janeiro, estudantes passaram a perseguir os colegas de origem italiana, alemã e japonesa. Sem saída, Getúlio Vargas declarou estado de beligerância ao Eixo em 22 de agosto.
Curiosamente, repetia-se o roteiro de 1917, quando, depois de ataques de submarinos alemães a vapores brasileiros, o País decidira entrar na Primeira Guerra Mundial. Na ocasião, forçado por uma imensa revolta popular, o presidente Venceslau Brás optou pela trincheira aliada. Vinte e cinco anos depois, chegava a hora de Getúlio Vargas tomar uma atitude. Com o orgulho novamente ferido por um U-Boot, o Brasil abandonou definitivamente a neutralidade e, em 31 de agosto, declarou guerra à Alemanha e à Itália.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

1942, o ano em que a guerra bateu à nossa porta

Para entender o contexto dos acontecimentos relatados no livro "U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial", é preciso situar-se em uma época completamente diferente, principalmente dos pontos de vista cultural e tecnológico. Sete décadas atrás, as fontes de informação resumiam-se ao rádio e aos jornais.

A TV só chegaria ao Brasil em 1950, trazida pelo empresário Assis Chateaubriand e, ainda assim, estava longe do que se pode chamar de veículo de comunicação de massa, uma vez que, inicialmente, poucos eram os brasileiros que tinham condições de adquirir a novidade. Já a Internet não existia nem nos melhores sonhos dos mais ousados inventores da época.

Se hoje é possível ouvir rádio no carro, no celular ou via satélite, nos anos 1940, o – ainda hoje – mais ágil dos meios de comunicação não tinha agilidade alguma. Maior parte dos modelos de aparelhos valvulados, que pesavam o mesmo que um fogão, raramente saía da sala de estar, onde as famílias reuniam-se para ouvir música – Tico-tico no fubá, composta em 1917 por Zequinha Abreu, era um dos sucessos da época, regravado por Carmen Miranda em 1939 – ou as últimas notícias do mundo lá fora.

O transistor, que possibilitaria a criação de aparelhos menores, só surgiria em 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra. Já o primeiro rádio de pilha e portátil só foi apresentado ao mundo em 1954.

Os jornais também desempenhavam um grande papel na disseminação das informações entre a população. Entretanto, pelo fato de chegarem às casas dos leitores com pelo menos um dia de atraso em relação ao exato momento em que os fatos se sucediam – ao contrário do rádio, da TV e da Internet, que hoje conseguem ser quase instantâneos –, os diários contribuíam, como os carros de boi e as poucas estradas pavimentadas, para a letargia das notícias até sua chegada à população em todo o território nacional.

Como se não bastasse, informações relacionadas a assuntos nacionais eram controladas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão do governo federal. Como todo ditador que se preze, Vargas vigiava cuidadosamente o trabalho da imprensa.

Nos anos 1940, o mundo, definitivamente, era muito diferente dos dias atuais. Mesmo em cidades quentes e litorâneas como a então capital federal, Rio de Janeiro, a maioria dos homens vestia-se com alguma classe, trajando ternos bem alinhados, que muitos combinavam com elegantes chapéus. Entre as mulheres, eram comuns os chapéus e os lenços.

Nas ruas, roncavam automóveis importados, montados no Brasil, como o Ford Lincoln, o Chrysler Airflow e o Chevrolet “Cabeça de Cavalo”.

Na guerra, como no dia a dia, as coisas também eram muito diferentes. Se hoje os conflitos são travados com mísseis supersônicos, durante a Segunda Guerra os embates se davam com tanques, canhões, revólveres, pistolas, submetralhadoras e granadas.

Nas águas, palco da carnificina dos navios Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, o sonar – instrumento usado na detecção de obstáculos sob a água – não era tão eficiente e raras eram as embarcações que contavam com o dispositivo. Somente a partir de 1943 é que a tecnologia seria aperfeiçoada, ajudando a localizar e neutralizar os submarinos alemães.

Além do próprio sonar, que mais tarde passaria a detectar até mesmo U-Boots (abreviação de “unterseeboot”) com motores desligados, os aliados ainda aperfeiçoariam seus sistemas de radar e desenvolveriam equipamentos capazes de localizar os submarinos a partir de suas transmissões de rádio. Contudo, até que isso acontecesse, centenas de navios – como os brasileiros – e milhares de pessoas já haviam sido sacrificados pelos ataques dos submersíveis.

De dentro das embarcações inimigas, os nazistas monitoravam as transmissões de rádio dos navios aliados, especialmente nas frequências de emergência internacional. Graças à interceptação de mensagens telegráficas e de informações repassadas pelo serviço secreto alemão, os comandantes sabiam se havia barcos em seu raio de ação e, depois de localizá-los – alguns U-boots (em inglês, “U-boat”, de “undersea boat”) dispunham de radares –, apenas aguardavam o momento exato de disparar seus torpedos.

Do outro lado, sem detectar a presença inimiga, as embarcações aliadas tornavam-se alvos fáceis quando localizadas. Sem perceberem a proximidade dos submarinos, eram rastreadas por horas sem desconfiar de nada, até serem impiedosamente atacadas, sem a menor chance de defesa.

Ao ler este livro, imagine-se dentro desse ambiente, diferente, mas dolorosamente real, no contexto de um conflito que viria a ser o mais letal de todos os tempos, causando a morte de 70 milhões de pessoas. A seguir, confira alguns dos principais fatos de 1942, o ano em que entramos em guerra.



Brasil

•       Inaugurada a Ponte das Bandeiras, em São Paulo. Com um vão de 60 metros sobre o rio Tietê, a estrutura custou à Prefeitura 4.500 contos de réis.

•       Em 5 de julho, é inaugurada a cidade de Goiânia.



Política

•       Em 9 de agosto, Mahatma Gandhi é preso, junto com outros dirigentes do Congresso Nacional da Índia.



Música

•       Em 7 de agosto, nasce Caetano Veloso.

•       Nas rádios, Ataulfo Alves faz sucesso com o samba Ai, que saudade da Amélia, parceria com Mário Lago.

•       Nos Estados Unidos, o trompetista Dizzy Gillespie compõe A night in Tunisia, considerado até hoje um dos maiores clássicos do jazz.

•       Surge White Christmas, de Bing Crosby, uma das canções de Natal mais executadas em todos os tempos, com mais de 50 milhões de cópias vendidas.



Cinema

•       Lançados o filme Casablanca e o desenho animado Bambi, de Walt Disney.

•       Nos cinemas do Brasil, um dos filmes em cartaz é O grande ditador, de Charlie Chaplin, lançado em 1940.



Quadrinhos

•       Lançado em maio de 1939, na revista Detective Comics, Batman aparece no Brasil pela primeira vez, no Globo Juvenil, com o nome de Morcego Negro. Mais tarde, ele passaria a chamar-se Homem Morcego.



Esporte

•       Devido à guerra, a Copa do Mundo não é realizada.

•       Por causa da identificação com o Eixo, o Palestra Itália passa a chamar-se Sociedade Esportiva Palmeiras. O clube, aliás, conquistou o Campeonato Paulista daquele ano.

•       O jornalista Thomaz Mazzoni, de A Gazeta Esportiva, batiza o clássico entre Corinthians e São Paulo de “Majestoso”. O jogo, que marcou a estreia de Leônidas da Silva no Tricolor e terminou empatado em 3 x 3, em 7 de março de 1942, teve um público de 70.281 pessoas no Pacaembu.


Estado/Campeão

AL: CSA

AM: Nacional

BA: Galícia

CE: Ceará

DF: Flamengo

ES: Rio Branco

MA: Sampaio Corrêa

MG: Atlético Mineiro

PA: Paysandu

PB: Ástrea

PE: Sport

PI: Flamengo

PR: Coritiba

RJ: Royal

RN: América

RS: Internacional

SC: Avaí

SE: Cotinguiba

sábado, 5 de maio de 2018

Compre pelo PagSeguro, com FRETE GRÁTIS

Você pode adquirir o livro "U-507" – finalista do Prêmio Jabuti de Reportagem em 2013 – pelo site do PagSeguro, com pagamento por meio de cartão de crédito ou boleto bancário. O FRETE é GRÁTIS para todo o Brasil, na modalidade Registro Módico dos Correios (prazo estimado de entrega de cerca de 10 dias úteis em todo o território nacional). Clique no botão abaixo e compre já! (Você será redirecionado para a página de pagamento do PagSeguro).


domingo, 6 de agosto de 2017

Box lembra os 75 anos de ataque nazista ao Brasil


Há exatos 75 anos, o Brasil declarava guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista. A decisão do presidente Getúlio Vargas foi tomada depois da carnificina levada a cabo pelo submarino alemão U-507, que – entre os dias 15 e 17 de agosto de 1942 – afundou cinco embarcações nacionais na costa do Nordeste, causando a morte de 607 brasileiros.
O episódio, que resultou em uma intensa revolta popular e deu início à perseguição aos imigrantes de origem e alemã e italiana em todo o país, é narrado em detalhes no livroU-507 – O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial, que acaba de ser relançado pela Editora Besouro Box, na caixa especial “Submarinos”.
Além do “U-507”, também integra o box o livro “U-93 – A entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial”. Em outubro próximo, completa-se um século do ingresso do país na chamada Grande Guerra, ocorrido em 1917.
Os box "Submarinos" custa R$ 89, com frete grátis para todo o Brasil e pode ser adquirido pelo site da Editora Besouro Box.

SAIBA MAIS

BOX SUBMARINOS
Vendas: exclusivas pelo site da Editora Besouro Box (www.besourobox.com.br)
Preço: R$ 89
Frete: grátis para todo o Brasil (entrega em até 10 dias úteis)

LIVRO U-507
Páginas: 284
Prefácio: Luis Fernando Verissimo, escritor, cronista e músico
Lançamento: 2012
Sinopse: entre os dias 15 e 17 de agosto de 1942, o submarino alemão U-507 torpedeou cinco navios brasileiros na costa nordestina, entre Sergipe e Bahia, deixando um total de 607 mortos. O Brasil, que até então se declarava neutro, de repente se viu obrigado a abandonar a posição de não beligerante. Diante da revolta da população, que saiu às ruas em protesto, depredando estabelecimentos pertencentes a imigrantes alemães, italianos e japoneses, o presidente Getúlio Vargas declarou guerra ao Eixo poucos dias depois.

LIVRO U-93
Páginas: 320
Prefácio: João Barone, músico, escritor e aficionado por guerras
Lançamento: 2014
Sinopse: a obra conta o processo que levou ao envolvimento do Brasil na Grande Guerra, em 1917, três anos após o começo do conflito. O incidente que obrigou o então presidente Wenceslau Escobar a declarar beligerância à Alemanha foi o afundamento do navio Macau, com o sequestro do comandante, Saturnino Furtado de Mendonça, e do taifeiro, Arlindo Dias dos Santos, que nunca mais foram vistos. À época, o desaparecimento dos marinheiros brasileiros gerou grande revolta popular contra os imigrantes germânicos em todo o país.

domingo, 14 de setembro de 2014

"Por mais terras que eu percorra"

O jornalista Marcelo Monteiro, autor do livro "U-507", foi um dos entrevistados do primeiro episódio da série "Por mais terras que eu percorra", publicada na RBSTV, na série Curtas Gaúchos, que relembra a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A série foi realizada em razão da passagem dos 70 anos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada à Itália para combater os nazistas e fascistas, em 1944.
 Confira o primeiro episódio neste link.


Os links dos quatro episódios da série "Por mais terras que eu percorra".:

Episódio 1
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/veja-o-primeiro-episodio-do-curta-por-mais-terras-que-eu-percorra/3492161/

Episódio 2
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/veja-o-segundo-episodio-da-serie-por-mais-terras-que-eu-percorra/3507085/

Episódio 3
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/confira-o-terceiro-episodio-da-serie-por-mais-terras-que-eu-percorra/3521957/

Episódio 4
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/veja-o-quarto-episodio-da-serie-por-mais-terras-que-eu-percorra/3536515/

Autor no Diário do Campus

Marcelo Monteiro, autor dos livros "U-507" e "U-93", concedeu entrevista ao Diário do Campus, da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O tema foi a participação do Brasil nas Grandes Guerras. Confira nos vídeos abaixo.



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Livro "U-93" é lançado em SP

O autor do livro "U-507", o jornalista Marcelo Monteiro, lançou em agosto o seu segundo livro, "U-93 - A entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial". A obra, editada pela Besouro Box, foi apresentada nacionalmente na Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Confira mais detalhes neste link.

http://u-93.blogspot.com.br/

terça-feira, 9 de abril de 2013

Os 28 do Baependy

"Depois de remar durante a noite inteira ajudados pelo vento – alguns sobreviventes revezavam-se tirando a água da baleeira com um balde –, os 28 náufragos do Baependy explodem de alegria ao enxergarem a costa. Apesar da penumbra da passagem da noite para o dia, já é possível visualizar no horizonte a estreita faixa de areia branca.
No entanto, ainda são necessárias muitas remadas até que se alcance a terra firme. Perto da praia, a baleeira chacoalha perigosamente diante da forte rebentação. Mais alguns metros e, enfim, os sobreviventes estão a salvo. O capitão Lauro Moutinho dos Reis, que chegou a pensar que morreria no momento em que fora puxado para o mar com o Baependy, está radiante. Depois de tudo o que passou, seu coração pula de alegria, como se quisesse saltar peito afora. O grupo chega a uma praia deserta, a cerca de 30 quilômetros da barra do rio Real."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

sábado, 6 de abril de 2013

Façanhas assinadas

"Como em suas casas, os comandantes dos U-boots gostam de personalizar a torre de suas embarcações. Os desenhos são como carimbos, espécies de assinaturas para as suas façanhas bélicas – na aflição de salvar a própria pele, um sobrevivente de um navio torpedeado certamente irá lembrar-se muito mais de uma figura colorida pintada na torre do que de um número qualquer estampado no casco do submarino.
No começo de 1942, assim que os testes de mar e os treinamentos foram concluídos, Schacht ordenou a pintura de um porco sorridente, com o nariz e a boca cor-de-rosa, em ambos os lados da torre de comando do U-507. Mais tarde, quando começou a tornar-se famoso por suas façanhas, mudou a caricatura para um simpático cachorro, pintado em branco, sobre um fundo cinza escuro.
No U-506, o segundo submarino a chegar ao Golfo do México, o comandante Erich Wüdermann preferiu a figura de um homem usando uma cartola e carregando dois baldes de água, conhecido como Hummel Hummel. Para os estrangeiros, pode até parecer um enigma, mas, para os alemães, é uma referência bem familiar. A figura representa um dos símbolos da cidade de Hamburgo, inspirado em Johann Wilhelm Bentz, um popular que viveu na cidade por volta de 1800. Desajeitado e mal-humorado, sempre que saía para buscar água, o sujeito era alvo de gozações das crianças locais, que o provocavam com um ingênuo xingamento da época. Indignado, o cidadão mostrava as nádegas para as crianças e respondia com muito menos ingenuidade. Com o passar das décadas, tal figura transformou-se em uma celebridade hamburguesa, inspirando desenhos e esculturas espalhadas por todos os cantos da cidade. Agora, na guerra, sua fama ganha o mundo graças à pintura no casco do U-506."

terça-feira, 2 de abril de 2013

"Manobras livres" no Brasil

"Apesar de jovem, Harro Schacht pode ser considerado um comandante experiente. Até chegar à sua terceira patrulha pelo Atlântico Sul, já atacou 10 embarcações inimigas, provocando o afundamento de nove delas. Por isso, a ordem que recebeu há alguns dias foi encarada com naturalidade. Em 7 de agosto, o comandante das operações no Atlântico, Karl Dönitz, enviou-lhe por rádio uma mensagem autorizando-o a usar “manobras livres” ao longo da costa brasileira. Em outras palavras, diante da escalada de hostilidades entre Brasil e Alemanha desde o rompimento das relações diplomáticas, não há mais qualquer restrição a ataques a navios brasileiros, tanto em alto-mar quanto em regiões próximas à costa.
Pouco mais de dois anos antes, em 15 de maio de 1940, Dönitz realizou uma espécie de teste no Atlântico, com apenas um submarino. O U-37, primeiro submersível a deixar a costa da Noruega após a invasão do país, ordenada por Hitler em 1º de março, na Operação Weserübung, foi enviado ao Atlântico para medir a vulnerabilidade da esquadra britânica. Usando torpedos e armas de convés, em apenas duas semanas conseguiu afundar 11 navios mercantes inimigos. O teste foi um sucesso. Além de minar a confiança inglesa, a ação levantou o moral dos alemães. Radiante, Dönitz mandou preparar duas flotilhas de submarinos para uma operação muito maior e mais bem planejada.
O fato, somado ao afundamento do couraçado alemão Bismarck, um gigante de 42 mil toneladas, no ano anterior, no Estreito da Dinamarca, contribuiu para que os nazistas decidissem mudar de estratégia, passando a apostar nos U-boots como sua principal arma contra os comboios aliados. Agora, a Alemanha mantém um verdadeiro arsenal submarino – e o Brasil também está na sua mira."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

segunda-feira, 4 de março de 2013

Perseguição implacável

Alcoa Puritan, afundado pelo U-507 em 6 de maio de 1942
Algumas vezes, a lealdade de Schacht aos ideais nazistas chega ao limite em que a crueldade e a ironia tornam-se espécies de armas contra os inimigos. Em 6 de maio, dia seguinte aos ataques a Munger T.Ball e Joseph M. Cudahy, foi a vez do Alcoa Puritan cruzar o caminho do U-507. A embarcação, da Alcoa Steamship Co., de Nova York, fora construída em San Francisco, no ano anterior, e pesava 6,7 mil toneladas, com 121 metros de comprimento, 18 metros de largura e 10 metros de profundidade.
Ao meio-dia, a cerca de 80 quilômetros a sudeste do Mississipi, tripulantes avisaram o capitão Yangvar Krantz sobre a aproximação de um torpedo pela popa do navio. O comandante mandou o navio manobrar, a todo vapor, ficando completamente de costas para o projétil, deixando assim uma área menor como alvo para o U-boat. A manobra funcionou, e o torpedo passou ao largo da embarcação.
No U-507, Schacht não se deu por vencido e começou uma perseguição. Mais rápido, o submarino não teve dificuldades para alcançar o Alcoa Puritan, carregado com 10 mil toneladas de bauxita. Depois de cerca de 25 minutos de rajadas de metralhadoras do convés do submarino, um tiro certeiro de grosso calibre na cauda fez o timoneiro perder o controle do navio americano. Sem saída, Krantz ordenou o abandono da embarcação.
Irritado, o comandante do U-507 não tomou conhecimento e prosseguiu com o bombardeio. Um barco salva-vidas foi destroçado antes mesmo que os náufragos pudessem alcançá-lo. Restou aos tripulantes do Alcoa Puritan, entre eles oito sobreviventes de um navio-tanque atacado dias antes pelo submarino italiano Pietro Calvi, agarrarem-se a um bote salva-vidas e a duas pequenas balsas. Por milagre, apenas dois dos 41 tripulantes e oito passageiros ficaram feridos por estilhaços.
Mal os salva-vidas tinham sido arriados, o U-507 disparou um torpedo a bombordo do navio, que explodiu e afundou em cerca de oito minutos. Pouco depois, como de praxe em ataques desse tipo, o próprio Schacht emergiu para averiguar o sucesso de operação.
Em seguida, manobrou o submarino em direção aos náufragos, perguntou onde estava o comandante e dirigiu-se ao bote onde estava Krantz:
– Você pode agradecer ao senhor (Franklin Delano) Roosevelt por isso – disse Schacht, com um inglês impecável e uma ponta de ironia, antes de desejar que os americanos chegassem à praia em segurança. – Desculpem, eu tive que afundar o seu navio, mas esta é a guerra.

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

domingo, 3 de março de 2013

O segundo torpedo

Além de não saberem como soltar as baleeiras, tripulantes e passageiros têm uma dificuldade a mais para lançar os barcos salva-vidas ao mar: recém-pintadas, as cordas que prendem as embarcações mantêm os nós praticamente colados.
A cerca de 300 metros, com a imagem do navio recortada no periscópio pelas luzes da capital sergipana, Harro Schacht comemora o tiro certeiro. O torpedo fez um estrago na parte posterior do casco da embarcação, registra em seu diário. Para garantir que o mercante irá afundar, o capitão dispara também o projétil do tubo 3.
Menos de um minuto depois do primeiro ataque, o novo tiro acerta em cheio os tanques de óleo combustível, causando uma grande explosão. As últimas luzes internas do Baependy se apagam. As labaredas se estendem por toda parte, atingindo quase o topo do mastro principal. O fogo e a queima do óleo deixam no ar uma fumaça sufocante e nauseabunda. Em pânico, os radiotelegrafistas sequer conseguem fazer funcionar a estação de transmissão. Não é possível nem pedir socorro.

(TRECHO DO LIVRO "U-507)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Ataque de tubarão

Longe das baleeiras, três soldados tentam chegar ao Arará. Dálvaro José de Oliveira e Carlos Salomão Bacarat nadam próximos e conversam, tentando animar-se. Mais atrás, sem que os dois possam vê-lo, Pedro Paulo Figueiredo Moreira – que ganhara a boia do tenente Alípio – procura alcançá-los.
– Fica tranquilo, Dálvaro. Sou bom nadador. Qualquer coisa, eu te ajudo – diz Bacarat.
Dois minutos depois, o soldado dá um urro repentino e desaparece nas águas, a um metro de Dálvaro, que, mesmo sem enxergar o que havia debaixo d’água, presume: tubarão. No momento em que desapareceu, desesperado, Bacarat ainda agarrou-se ao colete salva-vidas de Dálvaro, levando metade dele para o fundo do mar. “Deus do céu! Tô perdido!”, pensa o soldado sobrevivente, com os olhos esbugalhados de pavor.

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O avião Arará



Uma das aeronaves compradas com o dinheiro arrecadado pela Campanha Nacional de Aviação, o Arará – um Catalina (modelo PBY-5) – afundou o submarino alemão U-199, em 31 de julho de 1943.
O batismo oficial com o nome do navio torpedeado na costa baiana, porém, só aconteceu em 28 de agosto, quase um mês depois do feito heróico. Em cerimônia no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, o avião ganhou uma inscrição especial em sua cauda: “Doado à FAB pelo povo carioca”.
Em 20 de setembro do mesmo ano, cerca de 30 mil pessoas acompanharam a entrega do Itagiba, na doca número 1 do cais do porto de Porto Alegre. No feriado estadual em comemoração à Revolução Farroupilha, diversas autoridades marcaram presença, como o ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, e o empresário Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados. Entretanto, ninguém chamou tanto a atenção e foi tão ovacionado quanto José Ricardo Nunes, o ex-comandante do navio afundado na costa da Bahia, que agora emprestava seu nome ao novo avião de guerra da Força Aérea Brasileira. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Carta para um herói

A tragédia que vitimou o Itagiba uniu vários destinos. O capitão do navio, José Ricardo Nunes, e o comandante do pelotão do Grupo de Artilharia de Dorso, o capitão José Tito do Canto, ambos já falecidos, foram os últimos a deixar o navio. No momento em que o Itagiba adernava, Tito do Canto pediu a Nunes que colocasse a esposa Noêmia e a filha Vera Beatriz na baleeira, enquanto ele próprio tentaria salvar os seus comandados, que gritavam por socorro.
Em carta enviada por Nunes a Tito do Canto em 8 de maio de 1944, escrita em papel timbrado da Organização Henrique Lage, proprietária da Companhia Nacional de Navegação Costeira, o comandante do Itagiba respondeu à correspondência remetida pelo militar dias antes, em 23 de abril. Além de fazer uma eloquente declaração de amizade, Nunes lamentava o fato de o planeta estar mergulhado em uma guerra mundial e elogiava a bravura de Tito do Canto durante o afundamento. A amizade entre os dois foi tanta que, posteriormente, o militar viria a batizar um de seus filhos com o nome de “José Ricardo”.
Segundo a filha de Tito do Canto, Vera Beatriz, o capitão carregou por muitos anos a tristeza de não ter conseguido salvar vários de seus comandados. “Papai tinha muita dor porque os soldados gritavam ‘capitão, me salve, capitão, me salve’ e ele se sentiu, ali, no meio do oceano, impotente para fazer alguma coisa. Papai sempre disse sentir muita dor, por não ter podido fazer nada.”
Confira a seguir um trecho da carta enviada pelo comandante do navio ao capitão Tito do Canto, em 8 de maio 1944, quase dois anos após o naufrágio do Itagiba.

No dia 23 de abril teve o meu grande amigo a lembrança de me escrever a primeira carta. Dia 23 de abril é o Dia de São Jorge e neste mesmo dia, no ano de 1900, minha querida mãe me lançou neste mundo de misérias, neste planeta atrasado que a humanidade cognominou TERRA. Apesar dos sofrimentos que tenho passado, grandes alegrias eu tenho também sentido. Uma das maiores alegrias que tenho ainda guardada no meu coração foi ter salvo a sua boa e querida esposa D. Noêmia e a sua linda e extremosa filhinha Vera Beatriz. (...)
Eu me senti e me sentirei sempre orgulhoso de possuir a amizade de meu grande e valente Capitão Canto. Não poderei esquecer jamais a sua coragem. Um homem que entrega sua esposa e sua filhinha em um momento tão crítico ao capitão do navio e vai cuidar dos seus soldados até o momento em que o Itagiba afundou, este homem não se pode chamar somente um grande homem e sim um grande herói. Eis a razão por que eu jamais esquecerei o meu grande e valente Capitão Canto.

(Reportagem publicada no Diário de S.Paulo, em 8/5/2011)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Presente de Deus


Durante muitos anos, Walderez Cavalcante evitou tocar no assunto. Primeiro, por não conseguir falar sobre o drama vivido quando pequena. Mais tarde, quando, enfim, se sentia um pouco mais à vontade para lembrar o episódio, não tinha coragem de comentar com ninguém, pois temia ser tachada de louca. Afinal, como explicar o fato de uma criança, com quatro anos de idade, ter sobrevivido de um naufrágio em alto-mar, boiando por horas dentro de uma caixa de transporte de leite condensado vazia?
Carla, uma das filhas de Walderez, conta que evitava mencionar o episódio vivido pela mãe com amigos e colegas porque, por mais verdadeira que fosse, a história sempre soava fantasiosa. “Ninguém acreditava”, admite a médica. “Se a gente tentasse falar para alguém, eles davam risada.”
O fato de ter se formado em Psicologia, em Maceió, ajudou Walderez a superar parte do trauma. Às vezes, ela até pensa em visitar Valença, a cidade que a acolheu, da qual não tem quase nenhuma lembrança, mas desiste: “O que eu iria dizer quando chegasse lá?”, diz a ex-psicóloga. “Ia sair dizendo que fui salva de um naufrágio dentro de uma caixa de leite condensado? Ia parar no hospício.”
A imagem da pequena Walderez Cavalcante, com toda a aura de dramaticidade que envolveu o seu salvamento, foi usada pelo governo de Getúlio Vargas como forma de chamar a atenção da população para a brutalidade dos ataques alemães, justificando, dessa forma, a entrada do Brasil no conflito mundial. O seu retrato era a própria imagem do Brasil, vítima da covardia nazista.
Ao rever a foto do Itagiba na capa de um jornal da época, ela se emocionou, cobriu a imagem e lamentou: “Ainda me lembro daquele apito (do navio). Horrível. Foi como um último grito antes da morte.”

(Trecho de reportagem publicada no jornal Diário de S.Paulo, em 27/3/2011)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Piratas à espreita


"Nas águas, palco da carnificina dos navios Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, o sonar – instrumento usado na detecção de obstáculos sob a água – não era tão eficiente e raras eram as embarcações que contavam com o dispositivo (geralmente só os navios de escolta). Somente a partir de 1943 é que os mecanismos de defesa seriam aperfeiçoados, ajudando a localizar e neutralizar os submarinos alemães.
Além do próprio sonar, que mais tarde passaria a detectar até mesmo U-Boots (abreviação de “unterseeboot”) com motores desligados, os aliados ainda aperfeiçoariam seus sistemas de radar e desenvolveriam equipamentos capazes de localizar os submarinos a partir de suas transmissões de rádio. Contudo, até que isso acontecesse, centenas de navios – como os brasileiros – e milhares de pessoas já haviam sido sacrificados pelos ataques dos submersíveis.
De dentro das embarcações inimigas, os nazistas monitoravam as transmissões de rádio dos navios aliados, especialmente nas frequências de emergência internacional. Graças à interceptação de mensagens telegráficas e de informações repassadas pelo serviço secreto alemão, os comandantes sabiam se havia barcos em seu raio de ação e, depois de localizá-los – alguns U-boots (em inglês, “U-boat”, de “undersea boat”) dispunham de radares –, apenas aguardavam o momento exato de disparar seus torpedos.
Do outro lado, sem detectar a presença inimiga, as embarcações aliadas tornavam-se alvos fáceis quando localizadas. Sem perceberem a proximidade dos submarinos, eram rastreadas por horas sem desconfiar de nada, até serem impiedosamente atacadas, sem a menor chance de defesa."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

Walderez, grande mulher

Walderez Cavalcante, náufraga do navio Itagiba, no quadro "Grandes Mulheres", do programa "Todo Seu", de Ronnie Von, na TV Gazeta.