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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

U-507, um pirata à espreita no litoral brasileiro

Schacht comandou ofensiva nazista contra navios brasileiros em 1942
Harro Schath
Sexta-feira, 14 de agosto de 1942. Passam apenas cinco minutos da meia-noite. Em um ponto próximo ao Cabo de Santo Agostinho, no litoral pernambucano, o submarino alemão U-507 avista uma embarcação iluminada, sinalizada possivelmente em função da baixa visibilidade na região. A chuva, acompanhada de um forte vento, reduz o campo de visão para apenas 4 milhas marinhas. Acreditando tratar-se de um navio inimigo, Harro Schacht ordena a aproximação. Contudo, à medida que consegue chegar mais próximo da possível presa, percebe tratar-se de um mercante argentino, sinalizado como embarcação neutra. Devido à luminosidade escassa, Schacht não identifica o nome do navio, mas, de toda forma, sabe que não há razão para um ataque. Assim, decide voltar ao antigo curso. Metódico e disciplinado, o oficial de 34 anos está irritado com a série de falhas ocorridas recentemente em seu submarino. Durante a patrulha anterior, no Atlântico Norte, diversos problemas nos armamentos prejudicaram a eficiência bélica do U-boot. Por isso, o comandante inicia agora uma checagem geral na sala de torpedos de proa.
O interior do U-507 é dividido em cinco compartimentos consecutivos. De trás para a frente – no jargão marítimo, da popa para a proa –, primeiro, há a sala de torpedos traseira, que também serve como área de alojamento da tripulação. Em seguida vêm a cabina de baterias, também usada como estalagem dos oficiais e onde fica um pequeno banheiro; a sala de controle, localizada bem no centro da embarcação; o compartimento de máquinas, onde estão os motores elétricos e a diesel; e, finalmente, a sala de torpedos de proa, que também serve de alojamento a alguns marujos. Cada divisão tem entre cinco e sete metros de extensão por cerca de quatro metros de largura, com passagens estreitas entre elas, algumas em formato circular.
A classe IX, da qual faz parte o U-507, é a mais avançada da Kriegsmarine em termos tecnológicos. Os espaços internos são planejadamente ocupados, e as paredes, recobertas por canos, válvulas e mostradores. No teto, há locais onde são armazenadas dezenas de colchonetes. Com cuidado, Schacht examina a barulhenta e quase insuportavelmente abafada casa de máquinas. Cada mostrador é analisado demoradamente pelo capitão, que sente o suor escorrer-lhe em abundância pelo rosto, diante dos olhares atentos de dois auxiliares.
Nascido em 1907, em Cuxhaven, o comandante do U-507 iniciou sua carreira naval muito jovem, em 1926, aos 19 anos, como aspirante a oficial. Ao servir nos cruzadores Emden e Nürnberg, Harro Schacht conseguiu tanto destaque entre os colegas que, em 1936, após alcançar os postos de alferes, cadete, segundo e primeiro-tenente, foi chamado para assumir um posto importante no Oberkommando der Marine, o alto comando da Marinha alemã, já na condição de capitão-tenente. No entanto, os gabinetes não combinavam com o seu estilo.
Apesar da proximidade do poder, a rotina enfadonha dos telefones e das máquinas de escrever não lhe seduzia. Depois de cinco anos no OKM, Schacht agora dá as ordens em um submarino IX-C, a segunda classe de U-boats em importância na Marinha de Guerra alemã, a chamada Kriegsmarine. Desde 1941, após um período de treinamento em alto-mar e de uma breve patrulha no U-522, sob tutela do comandante Erich Topp, ele lidera o U-507, que navega no Atlântico com outros 47 marinheiros. Casado, Schacht deixou a esposa em Hamburgo. Apesar de serem parte da elite militar alemã, trancados em um grande tubo de metal, os marujos precisam lidar com a falta de alguns itens básicos, como um simples banho, para eles considerado um luxo em dias de guerra. Com o submarino no mar desde 4 de julho, eles estão há mais de um mês sem enxergar um chuveiro.
 Além do próprio cheiro exalado pelo funcionamento do U-boot, o odor na cabine mistura fumaça de cigarro, suor e outros aromas corporais que tornam a sobrevivência um permanente teste para o estômago. Por isso, nos submarinos, ao contrário do Exército, da Força Aérea e até mesmo de outras embarcações da Marinha alemã, não há uma preocupação em relação ao uniforme – para suportar o calor com alguma dignidade, a maioria dos soldados veste apenas calça com suspensório e camiseta. E, neste aspecto, Harro Schacht mantém uma silenciosa condescendência para com os seus subalternos. Fabricado em 1940, o submarino tem 1.120 toneladas de deslocamento na superfície, com 76,76 metros de comprimento. Movido por uma combinação de motores diesel e elétrico, quando submerso só pode usar a propulsão elétrica, que, ao contrário dos motores a combustão, não precisa de ar.
Em contrapartida, a navegação submersa se dá a uma velocidade bastante inferior, a apenas 4 nós, cerca de 7,5 quilômetros horários, enquanto, na superfície, a diesel, o U-507 pode alcançar 10 nós, ou 18,5 quilômetros por hora. Contudo, o principal está nas duas pontas da embarcação: na proa e na popa, duas salas podem carregar, juntas, até 22 torpedos, cada um deles capaz de afundar um navio de grande porte.
Apesar de jovem, Schacht pode ser considerado um comandante experiente. Até chegar à sua terceira patrulha pelo Atlântico Sul, já atacou 10 embarcações inimigas, provocando o afundamento de nove delas. Por isso, a ordem que recebeu há alguns dias foi encarada com naturalidade. Em 7 de agosto, o comandante das operações no Atlântico, Karl Dönitz, enviou-lhe por rádio uma mensagem autorizando-o a usar “manobras livres” ao longo da costa brasileira. Em outras palavras, diante da escalada de hostilidades entre Brasil e Alemanha desde o rompimento das relações diplomáticas, não há mais qualquer restrição a ataques a navios brasileiros, tanto em alto-mar quanto em regiões próximas à costa. Pouco mais de dois anos antes, em 15 de maio de 1940, Dönitz realizou uma espécie de teste no Atlântico, com apenas um submarino. O U-37, primeiro submersível a deixar a costa da Noruega após a invasão do país, ordenada por Adolf Hitler em 1º de março, na Operação Weserübung, foi enviado ao Atlântico para medir a vulnerabilidade da esquadra britânica. Usando torpedos e armas de convés, em apenas duas semanas conseguiu afundar 11 navios mercantes inimigos. O teste foi um sucesso. Além de minar a confiança inglesa, a ação levantou o moral dos alemães.
Karl Doenitz (à esquerda) e Adolf Hitler
Karld Doenitz e Adolf Hitler
Radiante, Dönitz mandou preparar duas flotilhas de submarinos para uma operação muito maior e mais bem planejada. O fato, somado ao afundamento do couraçado alemão Bismarck, um gigante de 42 mil toneladas, no ano anterior, no Estreito da Dinamarca, contribuiu para que os nazistas decidissem mudar de estratégia, passando a apostar nos U-boots como sua principal arma contra os comboios aliados. Agora, a Alemanha mantém um verdadeiro arsenal submarino – e o Brasil também está na sua mira.
Harro Schacht é o legítimo ariano, como nos melhores sonhos de raça pura do führer. Louro, olhos claros, pele branca e lisa como seda, cabelo fino e repartido como o de Hitler, Schacht já se mostrou destemido, dedicado e impiedoso em ação, o típico oficial disposto a qualquer coisa pelo Terceiro Reich. Em sua mesa no comando das operações navais, em Berlim, Karl Dönitz sabe que a tarefa que acaba de transmitir – aniquilar qualquer coisa que se mova nas águas territoriais brasileiras – está em boas mãos.
Decidido e abnegado, o capitão de corveta sabe ser implacável quando a situação assim o exige. Suas feições frequentemente rudes e seu olhar severo lembram o líder supremo nazista, transparecendo uma força de comando e persuasão quase hipnótica sobre os marujos – exatamente como o führer. Na batalha, Karl Dönitz projeta em Harro Schacht um soldado insensível, quase desumano. Na guerra, é preciso haver homens desse tipo.

domingo, 14 de setembro de 2014

"Por mais terras que eu percorra"

O jornalista Marcelo Monteiro, autor do livro "U-507", foi um dos entrevistados do primeiro episódio da série "Por mais terras que eu percorra", publicada na RBSTV, na série Curtas Gaúchos, que relembra a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A série foi realizada em razão da passagem dos 70 anos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada à Itália para combater os nazistas e fascistas, em 1944.
 Confira o primeiro episódio neste link.


Os links dos quatro episódios da série "Por mais terras que eu percorra".:

Episódio 1
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/veja-o-primeiro-episodio-do-curta-por-mais-terras-que-eu-percorra/3492161/

Episódio 2
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/veja-o-segundo-episodio-da-serie-por-mais-terras-que-eu-percorra/3507085/

Episódio 3
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/confira-o-terceiro-episodio-da-serie-por-mais-terras-que-eu-percorra/3521957/

Episódio 4
http://globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/veja-o-quarto-episodio-da-serie-por-mais-terras-que-eu-percorra/3536515/

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

"U-507" é finalista do Jabuti 2013


O livro "U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial" está entre os 10 finalistas do Prêmio Jabuti 2013, na categoria Livro-Reportagem. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (18), pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). O anúncio dos vencedores de cada categoria será feito em 17 de outubro. Confira abaixo os 10 finalistas da categoria:

1º - AS DUAS GUERRAS DE VLADO HERZOG: DA PERSEGUIÇÃO NAZISTA NA EUROPA À MORTE SOB TORTURA NO BRASIL - AUDÁLIO DANTAS - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
2º - DIAS DE INFERNO NA SÍRIA - KLESTER CAVALCANTI – EDITORA SARAIVA
3º - MÃOS QUE FAZEM HISTÓRIA - CRISTINA PIONER E GERMANA CABRAL - EDITORA VERDES MARES
4º - DIGNIDADE! – VÁRIOS AUTORES - LEYA
5º - CARCEREIROS - DRAUZIO VARELLA - COMPANHIA DAS LETRAS
6º - 1943 ROOSEVELT E VARGAS EM NAT
7º - LUZES DA ÁFRICA: PAI E FILHO EM BUSCA DA ALMA DE UM CONTINENTE - HAROLDO CASTRO - EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
8º - U-507 - O SUBMARINO QUE AFUNDOU O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - MARCELO MONTEIRO – EDITORA SCHOBA
9º - NABUCO EM PRETOS E BRANCOS - FABIANA MORAES - MASSANGANA
10º - O FOLE RONCOU! UMA HISTÓRIA DO FORRÓ - CARLOS MARCELO E ROSUALDO RODRIGUES – EDITORA ZAHAR
AL - ROBERTO MUYLAERT - EDITORA BÚSSOLA

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Livro chega à segunda edição

A partir desta semana, os leitores que adquirirem o livro "U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial" receberão exemplares da segunda edição. Elaborada pela Pubblicato Design Editorial, de Porto
Alegre, a nova edição tem 284 páginas, repletas de ilustrações e com um visual elegante e atrativo. Conheça mais sobre o trabalho da Pubblicato no site www.pubblicato.com.br.

sábado, 11 de maio de 2013

Guerra, caminho sem volta

Enquanto o anúncio oficial não acontece por parte do governo, os estudantes universitários do Rio de Janeiro resolvem eles próprios declarar guerra aos colegas alemães, italianos e japoneses. Por meio de um manifesto, pregam que a mesma medida seja adotada nos outros estados.Depois de “agressão”, “atentado”, “covardia” e “revolta”, a palavra da vez em todo o País é “guerra”. É isso o que os brasileiros parecem querer em todos os cantos do território nacional. Só uma declaração desse gênero pode aplacar os ânimos. É um caminho sem volta.

domingo, 5 de maio de 2013

Autor no Programa do Jô

Nas próximas semanas, a Rede Globo exibirá a entrevista concedida pelo autor do livro "U-507 – o Submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial" ao Programa do Jô. A gravação foi realizada na última segunda-feira (29), na sede da emissora, em São Paulo. Na entrevista, Marcelo Monteiro falou sobre o livro "U-507" e também sobre o seu próximo projeto editorial, que abordará a entrada e a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial.

sábado, 20 de abril de 2013

A patrulha contra a quinta-coluna


O temor de algum incidente envolvendo as casadas é a principal razão para que o comandante José Ricardo não aprove e até condene, sempre que possível, os contatos da sua tripulação e também dos jovens militares com os passageiros civis – principalmente as passageiras. A carranca do manda-chuva da embarcação rendeu, nos cochichos entre os soldados, o boato de que ele seria um “quinta-coluna”, como são conhecidos os colaboradores e espiões do Eixo infiltrados no País.
O termo, que designa os possíveis inimigos camuflados nas entranhas brasileiras, surgiu no fim da década anterior, na Espanha. O líder fascista espanhol Francisco Franco preparava uma marcha com quatro colunas de soldados sobre Madri, enquanto uma “quinta coluna”, clandestina, esperava-o para apoiá-lo na capital espanhola. Agora, na Segunda Guerra, a expressão ganhou força em alusão aos contingentes que apoiam as ações nazistas em todos os continentes, atuando como sabotadores, espiões, propagandistas ou simples simpatizantes dos ideais do Terceiro Reich.
No Brasil, qualquer um que pareça suspeito de algum desses predicados já é chamado, muitas vezes sem saber disso, de quinta-coluna. É o caso de José Ricardo, olhado de esguelha por alguns soldados. O comandante, porém, é apenas um homem sério e zeloso do bem-estar em seu navio – embora, por vezes, seu aspecto rude contribua para o contrário, como acontece com os praças do Grupo de Artilharia de Dorso.

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

domingo, 14 de abril de 2013

Palestra na ESPM-Sul

Na última quinta-feira (11), o autor do livro "U-507" palestrou na Semana do Jornalista da ESPM-Sul, em Porto Alegre. Na palestra, Monteiro falou aos alunos da Faculdade de Jornalismo sobre os desafios encontrados na produção de uma reportagem histórica. Confira a reportagem no site da ESPM-Sul.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Os 28 do Baependy

"Depois de remar durante a noite inteira ajudados pelo vento – alguns sobreviventes revezavam-se tirando a água da baleeira com um balde –, os 28 náufragos do Baependy explodem de alegria ao enxergarem a costa. Apesar da penumbra da passagem da noite para o dia, já é possível visualizar no horizonte a estreita faixa de areia branca.
No entanto, ainda são necessárias muitas remadas até que se alcance a terra firme. Perto da praia, a baleeira chacoalha perigosamente diante da forte rebentação. Mais alguns metros e, enfim, os sobreviventes estão a salvo. O capitão Lauro Moutinho dos Reis, que chegou a pensar que morreria no momento em que fora puxado para o mar com o Baependy, está radiante. Depois de tudo o que passou, seu coração pula de alegria, como se quisesse saltar peito afora. O grupo chega a uma praia deserta, a cerca de 30 quilômetros da barra do rio Real."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

sábado, 6 de abril de 2013

Façanhas assinadas

"Como em suas casas, os comandantes dos U-boots gostam de personalizar a torre de suas embarcações. Os desenhos são como carimbos, espécies de assinaturas para as suas façanhas bélicas – na aflição de salvar a própria pele, um sobrevivente de um navio torpedeado certamente irá lembrar-se muito mais de uma figura colorida pintada na torre do que de um número qualquer estampado no casco do submarino.
No começo de 1942, assim que os testes de mar e os treinamentos foram concluídos, Schacht ordenou a pintura de um porco sorridente, com o nariz e a boca cor-de-rosa, em ambos os lados da torre de comando do U-507. Mais tarde, quando começou a tornar-se famoso por suas façanhas, mudou a caricatura para um simpático cachorro, pintado em branco, sobre um fundo cinza escuro.
No U-506, o segundo submarino a chegar ao Golfo do México, o comandante Erich Wüdermann preferiu a figura de um homem usando uma cartola e carregando dois baldes de água, conhecido como Hummel Hummel. Para os estrangeiros, pode até parecer um enigma, mas, para os alemães, é uma referência bem familiar. A figura representa um dos símbolos da cidade de Hamburgo, inspirado em Johann Wilhelm Bentz, um popular que viveu na cidade por volta de 1800. Desajeitado e mal-humorado, sempre que saía para buscar água, o sujeito era alvo de gozações das crianças locais, que o provocavam com um ingênuo xingamento da época. Indignado, o cidadão mostrava as nádegas para as crianças e respondia com muito menos ingenuidade. Com o passar das décadas, tal figura transformou-se em uma celebridade hamburguesa, inspirando desenhos e esculturas espalhadas por todos os cantos da cidade. Agora, na guerra, sua fama ganha o mundo graças à pintura no casco do U-506."

terça-feira, 2 de abril de 2013

"Manobras livres" no Brasil

"Apesar de jovem, Harro Schacht pode ser considerado um comandante experiente. Até chegar à sua terceira patrulha pelo Atlântico Sul, já atacou 10 embarcações inimigas, provocando o afundamento de nove delas. Por isso, a ordem que recebeu há alguns dias foi encarada com naturalidade. Em 7 de agosto, o comandante das operações no Atlântico, Karl Dönitz, enviou-lhe por rádio uma mensagem autorizando-o a usar “manobras livres” ao longo da costa brasileira. Em outras palavras, diante da escalada de hostilidades entre Brasil e Alemanha desde o rompimento das relações diplomáticas, não há mais qualquer restrição a ataques a navios brasileiros, tanto em alto-mar quanto em regiões próximas à costa.
Pouco mais de dois anos antes, em 15 de maio de 1940, Dönitz realizou uma espécie de teste no Atlântico, com apenas um submarino. O U-37, primeiro submersível a deixar a costa da Noruega após a invasão do país, ordenada por Hitler em 1º de março, na Operação Weserübung, foi enviado ao Atlântico para medir a vulnerabilidade da esquadra britânica. Usando torpedos e armas de convés, em apenas duas semanas conseguiu afundar 11 navios mercantes inimigos. O teste foi um sucesso. Além de minar a confiança inglesa, a ação levantou o moral dos alemães. Radiante, Dönitz mandou preparar duas flotilhas de submarinos para uma operação muito maior e mais bem planejada.
O fato, somado ao afundamento do couraçado alemão Bismarck, um gigante de 42 mil toneladas, no ano anterior, no Estreito da Dinamarca, contribuiu para que os nazistas decidissem mudar de estratégia, passando a apostar nos U-boots como sua principal arma contra os comboios aliados. Agora, a Alemanha mantém um verdadeiro arsenal submarino – e o Brasil também está na sua mira."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

quinta-feira, 7 de março de 2013

Erro político

"Em seu livro de memórias, publicado em 1968, o almirante Karl Dönitz, que em 1943 assumiu o comando da Marinha alemã, substituindo Erich Raeder, admitiu ter sido um erro político a ação levada a cabo pelo U-507 na costa brasileira. “Posto que isso em nada alterasse a nossa amizade para com o Brasil, que já havia tomado parte em atos hostis contra nós, foi evidentemente um erro ter impelido o Brasil a uma declaração de guerra oficial: politicamente, nós deveríamos ter sido advertidos no sentido de evitar tal procedimento; os comandantes de flotilha, entretanto, como membros das forças armadas, não tiveram opção senão obedecer às ordens que lhes tenham sido dadas, pois não lhes competia pesar e medir suas consequências políticas.”
Após a morte de Hitler, em 30 de abril de 1945, Dönitz assumiu a presidência – posto abolido nos anos iniciais do nazismo e restabelecido somente no iminente fim do regime – por um período de 23 dias. Assim, o ex-comandante-em-chefe dos U-boots e, mais tarde, da própria Kriegsmarine, entrou para a história como o último líder do Terceiro Reich."

(TRECHO DO LIVRO U-507)

segunda-feira, 4 de março de 2013

Perseguição implacável

Alcoa Puritan, afundado pelo U-507 em 6 de maio de 1942
Algumas vezes, a lealdade de Schacht aos ideais nazistas chega ao limite em que a crueldade e a ironia tornam-se espécies de armas contra os inimigos. Em 6 de maio, dia seguinte aos ataques a Munger T.Ball e Joseph M. Cudahy, foi a vez do Alcoa Puritan cruzar o caminho do U-507. A embarcação, da Alcoa Steamship Co., de Nova York, fora construída em San Francisco, no ano anterior, e pesava 6,7 mil toneladas, com 121 metros de comprimento, 18 metros de largura e 10 metros de profundidade.
Ao meio-dia, a cerca de 80 quilômetros a sudeste do Mississipi, tripulantes avisaram o capitão Yangvar Krantz sobre a aproximação de um torpedo pela popa do navio. O comandante mandou o navio manobrar, a todo vapor, ficando completamente de costas para o projétil, deixando assim uma área menor como alvo para o U-boat. A manobra funcionou, e o torpedo passou ao largo da embarcação.
No U-507, Schacht não se deu por vencido e começou uma perseguição. Mais rápido, o submarino não teve dificuldades para alcançar o Alcoa Puritan, carregado com 10 mil toneladas de bauxita. Depois de cerca de 25 minutos de rajadas de metralhadoras do convés do submarino, um tiro certeiro de grosso calibre na cauda fez o timoneiro perder o controle do navio americano. Sem saída, Krantz ordenou o abandono da embarcação.
Irritado, o comandante do U-507 não tomou conhecimento e prosseguiu com o bombardeio. Um barco salva-vidas foi destroçado antes mesmo que os náufragos pudessem alcançá-lo. Restou aos tripulantes do Alcoa Puritan, entre eles oito sobreviventes de um navio-tanque atacado dias antes pelo submarino italiano Pietro Calvi, agarrarem-se a um bote salva-vidas e a duas pequenas balsas. Por milagre, apenas dois dos 41 tripulantes e oito passageiros ficaram feridos por estilhaços.
Mal os salva-vidas tinham sido arriados, o U-507 disparou um torpedo a bombordo do navio, que explodiu e afundou em cerca de oito minutos. Pouco depois, como de praxe em ataques desse tipo, o próprio Schacht emergiu para averiguar o sucesso de operação.
Em seguida, manobrou o submarino em direção aos náufragos, perguntou onde estava o comandante e dirigiu-se ao bote onde estava Krantz:
– Você pode agradecer ao senhor (Franklin Delano) Roosevelt por isso – disse Schacht, com um inglês impecável e uma ponta de ironia, antes de desejar que os americanos chegassem à praia em segurança. – Desculpem, eu tive que afundar o seu navio, mas esta é a guerra.

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

domingo, 3 de março de 2013

O segundo torpedo

Além de não saberem como soltar as baleeiras, tripulantes e passageiros têm uma dificuldade a mais para lançar os barcos salva-vidas ao mar: recém-pintadas, as cordas que prendem as embarcações mantêm os nós praticamente colados.
A cerca de 300 metros, com a imagem do navio recortada no periscópio pelas luzes da capital sergipana, Harro Schacht comemora o tiro certeiro. O torpedo fez um estrago na parte posterior do casco da embarcação, registra em seu diário. Para garantir que o mercante irá afundar, o capitão dispara também o projétil do tubo 3.
Menos de um minuto depois do primeiro ataque, o novo tiro acerta em cheio os tanques de óleo combustível, causando uma grande explosão. As últimas luzes internas do Baependy se apagam. As labaredas se estendem por toda parte, atingindo quase o topo do mastro principal. O fogo e a queima do óleo deixam no ar uma fumaça sufocante e nauseabunda. Em pânico, os radiotelegrafistas sequer conseguem fazer funcionar a estação de transmissão. Não é possível nem pedir socorro.

(TRECHO DO LIVRO "U-507)