terça-feira, 22 de janeiro de 2019

1942, o ano em que a guerra bateu à nossa porta

Para entender o contexto dos acontecimentos relatados no livro "U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial", é preciso situar-se em uma época completamente diferente, principalmente dos pontos de vista cultural e tecnológico. Sete décadas atrás, as fontes de informação resumiam-se ao rádio e aos jornais.

A TV só chegaria ao Brasil em 1950, trazida pelo empresário Assis Chateaubriand e, ainda assim, estava longe do que se pode chamar de veículo de comunicação de massa, uma vez que, inicialmente, poucos eram os brasileiros que tinham condições de adquirir a novidade. Já a Internet não existia nem nos melhores sonhos dos mais ousados inventores da época.

Se hoje é possível ouvir rádio no carro, no celular ou via satélite, nos anos 1940, o – ainda hoje – mais ágil dos meios de comunicação não tinha agilidade alguma. Maior parte dos modelos de aparelhos valvulados, que pesavam o mesmo que um fogão, raramente saía da sala de estar, onde as famílias reuniam-se para ouvir música – Tico-tico no fubá, composta em 1917 por Zequinha Abreu, era um dos sucessos da época, regravado por Carmen Miranda em 1939 – ou as últimas notícias do mundo lá fora.

O transistor, que possibilitaria a criação de aparelhos menores, só surgiria em 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra. Já o primeiro rádio de pilha e portátil só foi apresentado ao mundo em 1954.

Os jornais também desempenhavam um grande papel na disseminação das informações entre a população. Entretanto, pelo fato de chegarem às casas dos leitores com pelo menos um dia de atraso em relação ao exato momento em que os fatos se sucediam – ao contrário do rádio, da TV e da Internet, que hoje conseguem ser quase instantâneos –, os diários contribuíam, como os carros de boi e as poucas estradas pavimentadas, para a letargia das notícias até sua chegada à população em todo o território nacional.

Como se não bastasse, informações relacionadas a assuntos nacionais eram controladas pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão do governo federal. Como todo ditador que se preze, Vargas vigiava cuidadosamente o trabalho da imprensa.

Nos anos 1940, o mundo, definitivamente, era muito diferente dos dias atuais. Mesmo em cidades quentes e litorâneas como a então capital federal, Rio de Janeiro, a maioria dos homens vestia-se com alguma classe, trajando ternos bem alinhados, que muitos combinavam com elegantes chapéus. Entre as mulheres, eram comuns os chapéus e os lenços.

Nas ruas, roncavam automóveis importados, montados no Brasil, como o Ford Lincoln, o Chrysler Airflow e o Chevrolet “Cabeça de Cavalo”.

Na guerra, como no dia a dia, as coisas também eram muito diferentes. Se hoje os conflitos são travados com mísseis supersônicos, durante a Segunda Guerra os embates se davam com tanques, canhões, revólveres, pistolas, submetralhadoras e granadas.

Nas águas, palco da carnificina dos navios Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, o sonar – instrumento usado na detecção de obstáculos sob a água – não era tão eficiente e raras eram as embarcações que contavam com o dispositivo. Somente a partir de 1943 é que a tecnologia seria aperfeiçoada, ajudando a localizar e neutralizar os submarinos alemães.

Além do próprio sonar, que mais tarde passaria a detectar até mesmo U-Boots (abreviação de “unterseeboot”) com motores desligados, os aliados ainda aperfeiçoariam seus sistemas de radar e desenvolveriam equipamentos capazes de localizar os submarinos a partir de suas transmissões de rádio. Contudo, até que isso acontecesse, centenas de navios – como os brasileiros – e milhares de pessoas já haviam sido sacrificados pelos ataques dos submersíveis.

De dentro das embarcações inimigas, os nazistas monitoravam as transmissões de rádio dos navios aliados, especialmente nas frequências de emergência internacional. Graças à interceptação de mensagens telegráficas e de informações repassadas pelo serviço secreto alemão, os comandantes sabiam se havia barcos em seu raio de ação e, depois de localizá-los – alguns U-boots (em inglês, “U-boat”, de “undersea boat”) dispunham de radares –, apenas aguardavam o momento exato de disparar seus torpedos.

Do outro lado, sem detectar a presença inimiga, as embarcações aliadas tornavam-se alvos fáceis quando localizadas. Sem perceberem a proximidade dos submarinos, eram rastreadas por horas sem desconfiar de nada, até serem impiedosamente atacadas, sem a menor chance de defesa.

Ao ler este livro, imagine-se dentro desse ambiente, diferente, mas dolorosamente real, no contexto de um conflito que viria a ser o mais letal de todos os tempos, causando a morte de 70 milhões de pessoas. A seguir, confira alguns dos principais fatos de 1942, o ano em que entramos em guerra.



Brasil

•       Inaugurada a Ponte das Bandeiras, em São Paulo. Com um vão de 60 metros sobre o rio Tietê, a estrutura custou à Prefeitura 4.500 contos de réis.

•       Em 5 de julho, é inaugurada a cidade de Goiânia.



Política

•       Em 9 de agosto, Mahatma Gandhi é preso, junto com outros dirigentes do Congresso Nacional da Índia.



Música

•       Em 7 de agosto, nasce Caetano Veloso.

•       Nas rádios, Ataulfo Alves faz sucesso com o samba Ai, que saudade da Amélia, parceria com Mário Lago.

•       Nos Estados Unidos, o trompetista Dizzy Gillespie compõe A night in Tunisia, considerado até hoje um dos maiores clássicos do jazz.

•       Surge White Christmas, de Bing Crosby, uma das canções de Natal mais executadas em todos os tempos, com mais de 50 milhões de cópias vendidas.



Cinema

•       Lançados o filme Casablanca e o desenho animado Bambi, de Walt Disney.

•       Nos cinemas do Brasil, um dos filmes em cartaz é O grande ditador, de Charlie Chaplin, lançado em 1940.



Quadrinhos

•       Lançado em maio de 1939, na revista Detective Comics, Batman aparece no Brasil pela primeira vez, no Globo Juvenil, com o nome de Morcego Negro. Mais tarde, ele passaria a chamar-se Homem Morcego.



Esporte

•       Devido à guerra, a Copa do Mundo não é realizada.

•       Por causa da identificação com o Eixo, o Palestra Itália passa a chamar-se Sociedade Esportiva Palmeiras. O clube, aliás, conquistou o Campeonato Paulista daquele ano.

•       O jornalista Thomaz Mazzoni, de A Gazeta Esportiva, batiza o clássico entre Corinthians e São Paulo de “Majestoso”. O jogo, que marcou a estreia de Leônidas da Silva no Tricolor e terminou empatado em 3 x 3, em 7 de março de 1942, teve um público de 70.281 pessoas no Pacaembu.


Estado/Campeão

AL: CSA

AM: Nacional

BA: Galícia

CE: Ceará

DF: Flamengo

ES: Rio Branco

MA: Sampaio Corrêa

MG: Atlético Mineiro

PA: Paysandu

PB: Ástrea

PE: Sport

PI: Flamengo

PR: Coritiba

RJ: Royal

RN: América

RS: Internacional

SC: Avaí

SE: Cotinguiba

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