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Navio Itagiba, no qual viajariam Tito, Noêmia e a filha Vera Beatriz |
"Apesar do clima de
despedida, todos estão sorridentes – até mesmo os que choram. Menos Noêmia. Ela
e Tito conheceram-se há menos de dez anos, quando ele esteve servindo por
alguns meses em Santa
Maria, no interior do Rio Grande do Sul. Bonita e com um
grande magnetismo, a gaúcha conquistou o coração do jovem oficial, que decidiu
apostar no relacionamento, apesar da personalidade difícil da guria. Noêmia, em
contrapartida, sentiu-se atraída por aquele forasteiro de jeito sério e, ao
mesmo tempo, tão atencioso e gentil. Os dois sabiam que o casamento tinha tudo
para dar certo. Ela, uma pianista talentosa e dedicada. Ele, fã ardoroso de
música clássica, que chega a se zangar quando qualquer barulho atrapalha suas
audições. Agora, é justamente o casamento que afasta Noêmia de casa por mais
alguns milhares de quilômetros – sempre em função das mudanças de guarnição de
Tito do Canto.
Todavia, não é isso
que a incomoda. Um sonho enigmático que teve há alguns dias quase a fez
desmaiar ao ver o armazém do porto. Suas pernas ainda estão trêmulas. Noêmia
enxergara um navio negro, com um número 13, no qual todos os passageiros e
tripulantes vestiam roupas pretas, dos pés à cabeça. Ao guardar seus pertences
no camarote B, cedido pelo comandante José Ricardo Nunes em uma gentileza a
Tito, ela volta a se assustar: olhando bem, aquele B se parece muito com um 13
– com os lados unidos. O dia é 13 de agosto, e o Itagiba parte justamente do
armazém 13, às 13 horas.
– Minha Nossa
Senhora Medianeira!
Um calafrio lhe
corre pela espinha."
(TRECHO DO LIVRO "U-507")