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Navio Baependy, torpedeado na noite de 15 de agosto de 1942 |
"São 19h12min, e o
Baependy segue para o norte a todo vapor. Os médicos Zamir de Oliveira e
Viterbo Storry, recém-nomeados para o Serviço Nacional da Peste, em Pernambuco,
conversam com os passageiros Paulo Cezar de Paiva e Renato de Amorim Garcia. O
quarteto, que acabou de jantar de graça, em uma cortesia do imediato Antônio
Diogo de Queiroz, assiste agora à apresentação do trio de músicos, que executa Aquarela
do Brasil, de Ary Barroso. Zamir observa atentamente e elogia a performance
do baterista Higino Severino Pessoa.
Após refazer os
cálculos, o comandante do U-507 ordena o uso do torpedo do tubo 1. De passagem,
após jantar no salão, o comandante do Baependy, João Soares da Silva,
cumprimenta o chefe de máquinas Adolfo Kern e um funcionário do Lloyd
Brasileiro, que conversam do lado de fora da sala de música, no tombadilho.
Segundos depois, um estrondo sacode a embarcação. Madeiras e vidros
estraçalham-se de uma só vez. Estilhaços voam para todos os lados, atingindo
rostos, braços e pernas de quem está pela frente. De forma abrupta, as máquinas
param de funcionar. No convés, o clima festivo se esvai em um segundo. No
porão, as camas-beliches desmantelam-se e amontoam-se umas sobre as outras. Em
segundos, os soldados e os demais passageiros já estão com a água pela cintura.
Imóveis, todos tentam entender o que aconteceu. Surpreso, imaginando algum
problema grave na casa de máquinas, o comandante volta-se para Adolfo:
– Chefe, o que foi
isso?
– Fomos torpedeados.
Fora de dúvida, isso foi um torpedo – responde o primeiro maquinista, convicto
em função do cheiro de pólvora no ar. – Mande arriar as baleeiras!
O capitão do
Exército Lauro Moutinho dos Reis, que também fará parte do Grupo de Artilharia
de Dorso, é um dos primeiros a imaginar a possibilidade de o navio ter sido
atacado por um submarino. Parado no vestíbulo, local para onde confluem as
escadas do deque superior e dos camarotes, no andar de baixo, ele apanha
o salva-vidas e sai correndo para tentar se salvar. Por ali, mulheres e crianças, ainda atônitas e inertes, esperam por alguém que lhes diga o que fazer. Outras pessoas correm desesperadamente, sem saber aonde ir. A água invade as caldeiras. O Baependy começa a adernar. Em poucos segundos, só é possível locomover-se agarrado às paredes do navio."
(TRECHO DO LIVRO "U-507")