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Tenente Oswaldo Machado, vítima do torpedeamento do Araraquara |
"Por volta das 2
horas da manhã, cerca de 29 horas após o naufrágio do Araraquara, um marinheiro
que vaga no mar parece perturbado. Depois de pedir comida, o moço de convés
Esmerino Elias Siqueira diz ter ouvido soar a campainha para o café.
– Quero café com
pão! Por favor, dê-me pelo menos um pão com farinha.
– Tente dormir –
pede o piloto Milton Fernandes da Silva, passando a mão molhada de água salgada
sobre a cabeça do moço de convés.
Em seguida, Esmerino
tenta sufocar o tenente Oswaldo Machado, que está desacordado, mas é contido
por Milton e Erothildes Bruno de Barros. Mais alguns minutos e Esmerino, enfim,
salta ao mar, surpreendendo o trio, que apenas observa, sem poder evitar o seu
desaparecimento:
– Já que não quer me
dar comida, vou-me embora – diz o marujo, antes de sumir nas águas.
Cerca de uma hora
depois, o militar do Exército também começa a delirar, perguntando pelos
colegas mortos no naufrágio:
– Onde está Nélson?
Para testar o estado
mental do tenente, o ex-piloto do Araraquara e agora condutor da tolda de
quatro metros quadrados pergunta qual é o seu nome. A resposta correta,
“Oswaldo”, deixa Milton tranquilo, mas por pouco tempo. O militar,
repentinamente, joga-se ao mar. Com cuidado para manter o equilíbrio nas tábuas
que ainda restam no salva-vidas improvisado, os marinheiros agarram Oswaldo pelas
botas, puxando-o novamente para bordo.
– Acalme-se –
aconselha Milton. – Já perdemos um companheiro. Descanse. Tudo vai terminar
bem.
Oswaldo ignora o
pedido e, de repente, ergue-se, agressivo:
– Vocês estão é
embriagados. E sabem o que mais? Vou para casa! – diz o tenente, jogando-se ao
mar pela segunda vez, sem que os companheiros nada possam fazer.
A tolda, que já
chegara a comportar quatro náufragos, segue agora apenas com o piloto e o
terceiro maquinista do Araraquara. Milton e Erothildes distinguem, ao longe,
uma luz que parece ser a cidade de Aracaju. Os dois lamentam a perda dos dois
companheiros, mas, por sorte, o mar parece estar levando-os justamente para a
costa."
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