O temor de algum
incidente envolvendo as casadas é a principal razão para que o comandante José
Ricardo não aprove e até condene, sempre que possível, os contatos da sua
tripulação e também dos jovens militares com os passageiros civis –
principalmente as passageiras. A carranca do manda-chuva da embarcação rendeu,
nos cochichos entre os soldados, o boato de que ele seria um “quinta-coluna”,
como são conhecidos os colaboradores e espiões do Eixo infiltrados no País.
O termo, que designa
os possíveis inimigos camuflados nas entranhas brasileiras, surgiu no fim da
década anterior, na Espanha. O líder fascista espanhol Francisco Franco
preparava uma marcha com quatro colunas de soldados sobre Madri, enquanto uma
“quinta coluna”, clandestina, esperava-o para apoiá-lo na capital espanhola.
Agora, na Segunda Guerra, a expressão ganhou força em alusão aos contingentes
que apoiam as ações nazistas em todos os continentes, atuando como sabotadores,
espiões, propagandistas ou simples simpatizantes dos ideais do Terceiro Reich.
No Brasil, qualquer
um que pareça suspeito de algum desses predicados já é chamado, muitas vezes
sem saber disso, de quinta-coluna. É o caso de José Ricardo, olhado de esguelha
por alguns soldados. O comandante, porém, é apenas um homem sério e zeloso do
bem-estar em seu navio – embora, por vezes, seu aspecto rude contribua para o
contrário, como acontece com os praças do Grupo de Artilharia de Dorso.
(TRECHO DO LIVRO "U-507")