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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O avião Arará



Uma das aeronaves compradas com o dinheiro arrecadado pela Campanha Nacional de Aviação, o Arará – um Catalina (modelo PBY-5) – afundou o submarino alemão U-199, em 31 de julho de 1943.
O batismo oficial com o nome do navio torpedeado na costa baiana, porém, só aconteceu em 28 de agosto, quase um mês depois do feito heróico. Em cerimônia no Aeroporto Santos Dumont, no Rio, o avião ganhou uma inscrição especial em sua cauda: “Doado à FAB pelo povo carioca”.
Em 20 de setembro do mesmo ano, cerca de 30 mil pessoas acompanharam a entrega do Itagiba, na doca número 1 do cais do porto de Porto Alegre. No feriado estadual em comemoração à Revolução Farroupilha, diversas autoridades marcaram presença, como o ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, e o empresário Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados. Entretanto, ninguém chamou tanto a atenção e foi tão ovacionado quanto José Ricardo Nunes, o ex-comandante do navio afundado na costa da Bahia, que agora emprestava seu nome ao novo avião de guerra da Força Aérea Brasileira. 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Carta para um herói

A tragédia que vitimou o Itagiba uniu vários destinos. O capitão do navio, José Ricardo Nunes, e o comandante do pelotão do Grupo de Artilharia de Dorso, o capitão José Tito do Canto, ambos já falecidos, foram os últimos a deixar o navio. No momento em que o Itagiba adernava, Tito do Canto pediu a Nunes que colocasse a esposa Noêmia e a filha Vera Beatriz na baleeira, enquanto ele próprio tentaria salvar os seus comandados, que gritavam por socorro.
Em carta enviada por Nunes a Tito do Canto em 8 de maio de 1944, escrita em papel timbrado da Organização Henrique Lage, proprietária da Companhia Nacional de Navegação Costeira, o comandante do Itagiba respondeu à correspondência remetida pelo militar dias antes, em 23 de abril. Além de fazer uma eloquente declaração de amizade, Nunes lamentava o fato de o planeta estar mergulhado em uma guerra mundial e elogiava a bravura de Tito do Canto durante o afundamento. A amizade entre os dois foi tanta que, posteriormente, o militar viria a batizar um de seus filhos com o nome de “José Ricardo”.
Segundo a filha de Tito do Canto, Vera Beatriz, o capitão carregou por muitos anos a tristeza de não ter conseguido salvar vários de seus comandados. “Papai tinha muita dor porque os soldados gritavam ‘capitão, me salve, capitão, me salve’ e ele se sentiu, ali, no meio do oceano, impotente para fazer alguma coisa. Papai sempre disse sentir muita dor, por não ter podido fazer nada.”
Confira a seguir um trecho da carta enviada pelo comandante do navio ao capitão Tito do Canto, em 8 de maio 1944, quase dois anos após o naufrágio do Itagiba.

No dia 23 de abril teve o meu grande amigo a lembrança de me escrever a primeira carta. Dia 23 de abril é o Dia de São Jorge e neste mesmo dia, no ano de 1900, minha querida mãe me lançou neste mundo de misérias, neste planeta atrasado que a humanidade cognominou TERRA. Apesar dos sofrimentos que tenho passado, grandes alegrias eu tenho também sentido. Uma das maiores alegrias que tenho ainda guardada no meu coração foi ter salvo a sua boa e querida esposa D. Noêmia e a sua linda e extremosa filhinha Vera Beatriz. (...)
Eu me senti e me sentirei sempre orgulhoso de possuir a amizade de meu grande e valente Capitão Canto. Não poderei esquecer jamais a sua coragem. Um homem que entrega sua esposa e sua filhinha em um momento tão crítico ao capitão do navio e vai cuidar dos seus soldados até o momento em que o Itagiba afundou, este homem não se pode chamar somente um grande homem e sim um grande herói. Eis a razão por que eu jamais esquecerei o meu grande e valente Capitão Canto.

(Reportagem publicada no Diário de S.Paulo, em 8/5/2011)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Presente de Deus


Durante muitos anos, Walderez Cavalcante evitou tocar no assunto. Primeiro, por não conseguir falar sobre o drama vivido quando pequena. Mais tarde, quando, enfim, se sentia um pouco mais à vontade para lembrar o episódio, não tinha coragem de comentar com ninguém, pois temia ser tachada de louca. Afinal, como explicar o fato de uma criança, com quatro anos de idade, ter sobrevivido de um naufrágio em alto-mar, boiando por horas dentro de uma caixa de transporte de leite condensado vazia?
Carla, uma das filhas de Walderez, conta que evitava mencionar o episódio vivido pela mãe com amigos e colegas porque, por mais verdadeira que fosse, a história sempre soava fantasiosa. “Ninguém acreditava”, admite a médica. “Se a gente tentasse falar para alguém, eles davam risada.”
O fato de ter se formado em Psicologia, em Maceió, ajudou Walderez a superar parte do trauma. Às vezes, ela até pensa em visitar Valença, a cidade que a acolheu, da qual não tem quase nenhuma lembrança, mas desiste: “O que eu iria dizer quando chegasse lá?”, diz a ex-psicóloga. “Ia sair dizendo que fui salva de um naufrágio dentro de uma caixa de leite condensado? Ia parar no hospício.”
A imagem da pequena Walderez Cavalcante, com toda a aura de dramaticidade que envolveu o seu salvamento, foi usada pelo governo de Getúlio Vargas como forma de chamar a atenção da população para a brutalidade dos ataques alemães, justificando, dessa forma, a entrada do Brasil no conflito mundial. O seu retrato era a própria imagem do Brasil, vítima da covardia nazista.
Ao rever a foto do Itagiba na capa de um jornal da época, ela se emocionou, cobriu a imagem e lamentou: “Ainda me lembro daquele apito (do navio). Horrível. Foi como um último grito antes da morte.”

(Trecho de reportagem publicada no jornal Diário de S.Paulo, em 27/3/2011)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Piratas à espreita


"Nas águas, palco da carnificina dos navios Baependy, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba e Arará, o sonar – instrumento usado na detecção de obstáculos sob a água – não era tão eficiente e raras eram as embarcações que contavam com o dispositivo (geralmente só os navios de escolta). Somente a partir de 1943 é que os mecanismos de defesa seriam aperfeiçoados, ajudando a localizar e neutralizar os submarinos alemães.
Além do próprio sonar, que mais tarde passaria a detectar até mesmo U-Boots (abreviação de “unterseeboot”) com motores desligados, os aliados ainda aperfeiçoariam seus sistemas de radar e desenvolveriam equipamentos capazes de localizar os submarinos a partir de suas transmissões de rádio. Contudo, até que isso acontecesse, centenas de navios – como os brasileiros – e milhares de pessoas já haviam sido sacrificados pelos ataques dos submersíveis.
De dentro das embarcações inimigas, os nazistas monitoravam as transmissões de rádio dos navios aliados, especialmente nas frequências de emergência internacional. Graças à interceptação de mensagens telegráficas e de informações repassadas pelo serviço secreto alemão, os comandantes sabiam se havia barcos em seu raio de ação e, depois de localizá-los – alguns U-boots (em inglês, “U-boat”, de “undersea boat”) dispunham de radares –, apenas aguardavam o momento exato de disparar seus torpedos.
Do outro lado, sem detectar a presença inimiga, as embarcações aliadas tornavam-se alvos fáceis quando localizadas. Sem perceberem a proximidade dos submarinos, eram rastreadas por horas sem desconfiar de nada, até serem impiedosamente atacadas, sem a menor chance de defesa."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

Walderez, grande mulher

Walderez Cavalcante, náufraga do navio Itagiba, no quadro "Grandes Mulheres", do programa "Todo Seu", de Ronnie Von, na TV Gazeta.


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Delírio e sofrimento

Tenente Oswaldo Machado, vítima do torpedeamento do Araraquara

"Por volta das 2 horas da manhã, cerca de 29 horas após o naufrágio do Araraquara, um marinheiro que vaga no mar parece perturbado. Depois de pedir comida, o moço de convés Esmerino Elias Siqueira diz ter ouvido soar a campainha para o café.
– Quero café com pão! Por favor, dê-me pelo menos um pão com farinha.
– Tente dormir – pede o piloto Milton Fernandes da Silva, passando a mão molhada de água salgada sobre a cabeça do moço de convés.
Em seguida, Esmerino tenta sufocar o tenente Oswaldo Machado, que está desacordado, mas é contido por Milton e Erothildes Bruno de Barros. Mais alguns minutos e Esmerino, enfim, salta ao mar, surpreendendo o trio, que apenas observa, sem poder evitar o seu desaparecimento:
– Já que não quer me dar comida, vou-me embora – diz o marujo, antes de sumir nas águas.
Cerca de uma hora depois, o militar do Exército também começa a delirar, perguntando pelos colegas mortos no naufrágio:
– Onde está Nélson?
Para testar o estado mental do tenente, o ex-piloto do Araraquara e agora condutor da tolda de quatro metros quadrados pergunta qual é o seu nome. A resposta correta, “Oswaldo”, deixa Milton tranquilo, mas por pouco tempo. O militar, repentinamente, joga-se ao mar. Com cuidado para manter o equilíbrio nas tábuas que ainda restam no salva-vidas improvisado, os marinheiros agarram Oswaldo pelas botas, puxando-o novamente para bordo.
– Acalme-se – aconselha Milton. – Já perdemos um companheiro. Descanse. Tudo vai terminar bem.
Oswaldo ignora o pedido e, de repente, ergue-se, agressivo:
– Vocês estão é embriagados. E sabem o que mais? Vou para casa! – diz o tenente, jogando-se ao mar pela segunda vez, sem que os companheiros nada possam fazer.
A tolda, que já chegara a comportar quatro náufragos, segue agora apenas com o piloto e o terceiro maquinista do Araraquara. Milton e Erothildes distinguem, ao longe, uma luz que parece ser a cidade de Aracaju. Os dois lamentam a perda dos dois companheiros, mas, por sorte, o mar parece estar levando-os justamente para a costa."

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O drama do Baependy


Navio Baependy, torpedeado na noite de 15 de agosto de 1942
"São 19h12min, e o Baependy segue para o norte a todo vapor. Os médicos Zamir de Oliveira e Viterbo Storry, recém-nomeados para o Serviço Nacional da Peste, em Pernambuco, conversam com os passageiros Paulo Cezar de Paiva e Renato de Amorim Garcia. O quarteto, que acabou de jantar de graça, em uma cortesia do imediato Antônio Diogo de Queiroz, assiste agora à apresentação do trio de músicos, que executa Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. Zamir observa atentamente e elogia a performance do baterista Higino Severino Pessoa.
Após refazer os cálculos, o comandante do U-507 ordena o uso do torpedo do tubo 1. De passagem, após jantar no salão, o comandante do Baependy, João Soares da Silva, cumprimenta o chefe de máquinas Adolfo Kern e um funcionário do Lloyd Brasileiro, que conversam do lado de fora da sala de música, no tombadilho. Segundos depois, um estrondo sacode a embarcação. Madeiras e vidros estraçalham-se de uma só vez. Estilhaços voam para todos os lados, atingindo rostos, braços e pernas de quem está pela frente. De forma abrupta, as máquinas param de funcionar. No convés, o clima festivo se esvai em um segundo. No porão, as camas-beliches desmantelam-se e amontoam-se umas sobre as outras. Em segundos, os soldados e os demais passageiros já estão com a água pela cintura. Imóveis, todos tentam entender o que aconteceu. Surpreso, imaginando algum problema grave na casa de máquinas, o comandante volta-se para Adolfo:
– Chefe, o que foi isso?
– Fomos torpedeados. Fora de dúvida, isso foi um torpedo – responde o primeiro maquinista, convicto em função do cheiro de pólvora no ar. – Mande arriar as baleeiras!
O capitão do Exército Lauro Moutinho dos Reis, que também fará parte do Grupo de Artilharia de Dorso, é um dos primeiros a imaginar a possibilidade de o navio ter sido atacado por um submarino. Parado no vestíbulo, local para onde confluem as escadas do deque superior e dos camarotes, no andar de baixo, ele apanha o salva-vidas e sai correndo para tentar se salvar. Por ali, mulheres e crianças, ainda atônitas e inertes, esperam por alguém que lhes diga o que fazer. Outras pessoas correm desesperadamente, sem saber aonde ir. A água invade as caldeiras. O Baependy começa a adernar. Em poucos segundos, só é possível locomover-se agarrado às paredes do navio."
(TRECHO DO LIVRO "U-507")


 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A misteriosa premonição


Navio Itagiba, no qual viajariam Tito, Noêmia e a filha Vera Beatriz
"Apesar do clima de despedida, todos estão sorridentes – até mesmo os que choram. Menos Noêmia. Ela e Tito conheceram-se há menos de dez anos, quando ele esteve servindo por alguns meses em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul. Bonita e com um grande magnetismo, a gaúcha conquistou o coração do jovem oficial, que decidiu apostar no relacionamento, apesar da personalidade difícil da guria. Noêmia, em contrapartida, sentiu-se atraída por aquele forasteiro de jeito sério e, ao mesmo tempo, tão atencioso e gentil. Os dois sabiam que o casamento tinha tudo para dar certo. Ela, uma pianista talentosa e dedicada. Ele, fã ardoroso de música clássica, que chega a se zangar quando qualquer barulho atrapalha suas audições. Agora, é justamente o casamento que afasta Noêmia de casa por mais alguns milhares de quilômetros – sempre em função das mudanças de guarnição de Tito do Canto.
Todavia, não é isso que a incomoda. Um sonho enigmático que teve há alguns dias quase a fez desmaiar ao ver o armazém do porto. Suas pernas ainda estão trêmulas. Noêmia enxergara um navio negro, com um número 13, no qual todos os passageiros e tripulantes vestiam roupas pretas, dos pés à cabeça. Ao guardar seus pertences no camarote B, cedido pelo comandante José Ricardo Nunes em uma gentileza a Tito, ela volta a se assustar: olhando bem, aquele B se parece muito com um 13 – com os lados unidos. O dia é 13 de agosto, e o Itagiba parte justamente do armazém 13, às 13 horas.
– Minha Nossa Senhora Medianeira!
Um calafrio lhe corre pela espinha."

(TRECHO DO LIVRO "U-507")

O impiedoso Harro Schacht



"Harro Schacht é o legítimo ariano, como nos melhores sonhos de raça pura do führer. Louro, olhos claros, pele branca e lisa como seda, cabelo fino e repartido como o de Hitler, Schacht já se mostrou destemido, dedicado e impiedoso em ação, o típico oficial disposto a qualquer coisa pelo Terceiro Reich. Em sua mesa no comando das operações navais, em Berlim, Karl Dönitz sabe que a tarefa que acaba de transmitir – aniquilar qualquer coisa que se mova nas águas territoriais brasileiras – está em boas mãos.
Decidido e abnegado, o capitão de corveta sabe ser implacável quando a situação assim o exige. Suas feições frequentemente rudes e seu olhar severo lembram o líder supremo nazista, transparecendo uma força de comando e persuasão quase hipnótica sobre os marujos – exatamente como o führer. Na batalha, Karl Dönitz projeta em Harro Schacht um soldado insensível, quase desumano. Na guerra, é preciso haver homens desse tipo."
(TRECHO DO LIVRO "U-507")

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Palestra em Porto Velho

No dia 8 de março, às 20h, o autor do livro U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial, o jornalista Marcelo Monteiro, dará palestra no auditório da OAB/PVH, em Porto Velho (RO). A atividade marcará a aula inaugural do curso de pós-graduação em Jornalismo, Comunicação Empresarial e Assessoria de Imprensa da Faculdade Santo André (www.multiron.org.br). Informações podem ser obtidas com João Paulo Barroso, pelo fone (69) 8482-3910 ou pelo e-mail posjornalismopvh@gmail.com.